Queria ter algo bonito pra dizer. Isso não é difícil, sou fácil com
palavras. Não sou boa em muita coisa, mas com palavra sim. E dizem que
eu danço bem também. Fora isso, nada mais me apetece. Nada mais me
engrandece, me fortalece, me mantém sentindo o sangue correndo nas
veias. Sem palavras não sou nada, principalmente se elas não são ditas
pra alguém ler. Confesso também que gosto de plateia. Tenho uma veia
meio-atriz-meio-comediante em mim. Já me disseram que é uma tal de
insegurança. Alguém conhece? Nunca ouvi falar.
E é lógico que
minha última frase é uma delícia duma mentira, se tem uma coisa que não
sei fazer nessa vida é mentir. Se você me perguntar, terá a resposta. E
creio que, em 90% das vezes, minhas respostas são genuinamente
espontâneas; sem intenção de machucar ou ofender ninguém. Me questiono
diariamente se isso me faz uma má pessoa. E sempre termino com um velho
clichê: pois eu prefiro a verdade crua do que uma meia-mentira mal
passada.
Insegurança é um dos meus piores defeitos e isso talvez
justifique minha vontade em ser atriz. Fingir ser outra pessoa, fazer a
galera ao redor rir - tem coisa melhor? Fugir de si mesma. A grande
contradição é que para esse tipo de carreira/hobby é necessária uma
segurança absurda em si mesma. Vai entender. A vida é um eterno looping
de opostos que se atraem e só sobrevivem se juntos.
Repeti
infinitas vezes essa semana que o meu maior problema não é conseguir o
que quero, mas sim, manter. Manter um relacionamento (não limitado a
amorosos - mas qualquer tipo de relação que seja familiar, amigável,
enfim), manter um emprego, manter uma rotina, manter disciplina. Medo?
Incapacidade? Meus caralhos, é a merda da insegurança.
Mas não
comecei esse texto com essa intenção. Engraçado como depois de um certo
tempo sem escrever para mim mesma, me transbordo em pensamentos
aleatórios que nada tem a ver um com outro... nesse exato momento, por
exemplo, estou pensando no mês de março e no meu salto de paraquedas.
Pirando, na verdade.
A real é que entre 2012 e 2014 tantas coisas
aconteceram que mal posso contar em tópicos. Eu deveria na verdade
montar slides em ppt com imagens ilustrativas - certo que seria um hit
de sucesso nos memes virtuais. Claramente foram os anos mais pirados e
bem vividos da minha vida. Cheios de autoconhecimento, amigos (alguns
ficaram, outros foram - graças a Deus mantive os bons), bebedeiras,
danças, erros e acertos. Desgarrei de um amor, me apaixonei de novo,
bati a cara na parede mais uma vez. Continuei apaixonada, me conformei,
fiz inúmeras (ok, hipérbole é meu forte) loucuras, descontei na
caipirinha e no banheiro do Fidel. Ah Fidel, hoje eu passei na frente do
bar e o balcão estava destruído. Me cortou o coração ver aquele lugar
fechando... tantas memórias, tantas vidas num cantinho vermelho com um
shot de cachaça (porque tequila é pra coxinha). Mal dá pra acreditar que
meu livro de histórias nessa esquina congelante (porra véio, fumar um
cigarro no inverno ali era impossível!) acabou. Tantos amores,
desamores, discussões, danças, risadas, histórias mal contadas, amizades
feitas e desfeitas, cantorias, futebol no sofá de domingo com pão de
alho que mal dá pra acreditar.
Tá vendo? Já troquei as ideias
por conta do fechamento do meu boteco preferido que rolou essa semana e
eu mal pude me despedir. Não gosto dessa coisa sem fim, sabe? Gosto de
despedidas. Não tive. Me resta lembrar tudo que vivi ali dentro e como
fui feliz falando merda atrás de merda numa calçada fedida, cheia de
baratas - mas também coberta de momentos bons que ficarão pra sempre na
memória. Momentos tristes também, mas esses fiz questão de dar descarga
junto com a vodca.
Reviravoltas, sonhos destruídos, amizades
maravilhosas, encontro de almas e descobertas de que a vida pode ser
leve. Aliás, não só pode como deve. Tudo isso em uma esquina que venta
mais que a Irlanda inteira, cigarrinhos e cervejas compartilhadas,
milhões de fotos pra guardar - obrigada tecnologia.
Esse post era para ser uma carta de amor. Virou uma auto-análise e acabou com um desabafo sobre o bar do Fidel e da Alê.
Tudo
isso pra dizer, já que faz quase um ano que não atualizo esse meu
cantinho, que 2014 foi do caralho. Perdemos Jair, Robin, Wilker,
Márquez, Joan Rivers, e agora Joe Cocker. Mas não perdemos a fé de que
podemos marcar a vida de alguém; assim como todos estes citados marcaram
a de montes.
2014 foi cheio - cheio de tristeza, frustração,
pânico, desespero. Mas também cheio de amor, risadas (se eu tenho outro
dom nessa vida é dar risada - GRAÇAS A DEUS!), conquistas e vontade de
saltar nesse mundão afora sem medo de ser feliz.
Então eu
agradeço por todos que fizeram do meu ano mais feliz, mais alegre - e
até quem o fez mais triste também. Quem subestima a tristeza nunca vai
entender de fato o que é a felicidade.
E a você, meu bem. Por terminar meu ano me fazendo tão bem quanto eu nunca achei que merecia. You know who you are.
Eu, minha caipirinha, a esquina friorenta. E a saudade que ficou.