domingo, 2 de junho de 2013

desejos



Sempre quis ser cantora. Bem, tarefa impossível já que, infelizmente, não nasci com o dom para. Ultimamente (essa ninguém sabe), desde que descobri Fábio Porchat e o seu Porta dos Fundos, enfiei na cabeça que quero ser atriz. Acho maravilhoso o dom do humor, roteiros criativos, essa vida louca que deve ser de brainstorming pra televisão. Cabeças no céu, na terra, no inferno, no arco-íris, no polegar do godzilla, na ponta da ponte estaiada, no meio da Meg Ryan e do Tom Hanks enquanto se encontram no Empire State. Soltar as caraminholas e fazer o impossível palpável - e ainda! agradando a tantos -, deve ser uma sensação única. Algumas pessoas já me disseram para eu entrar no meio artístico, fazer teatro. Mas sabe quando aquele bichinho fica gritando na sua orelha: "aham, até parece, volta pro seu cantinho, volta."?

Pois é.

Sempre quis ser colunista também. Escrevo desde que aprendi a ler. Já escrevi poesias (que hoje não suporto - com exceção de Vinícius e Drummond), comecei inúmero livros, cartas então... são incontáveis, e as minhas preferidas. Acho que por isso o desejo em escrever colunas para jornais/revistas. Reflexões sobre o cotidiano, rotina, pequenos acontecimentos diários são os assuntos mais fascinantes pra mim. Em como esses mínimos detalhes transformam nosso modo de viver e principalmente enxergar a vida. E a (in)consciência humana, então?! Essas são minhas preferidas ao colocar a caneta na mão - ou os dedos no teclado, claro. Fora os problemas socioeconômicos do Brasil e do mundo - esses que tanto me revoltam e tanto me fazem querer gritar pro mundo minha opinião e tentar ao menos colocar algum senso de bom senso (com o perdão da redundância) nas pessoas. Influenciar a maioria - acho que é esse o maior objetivo. Já iniciei Jornalismo e nunca terminei. Sonho. "volta pro seu cantinho, volta."

Também sempre quis trabalhar em hospitais com pacientes oncológicos em estágio terminal. Por isso eu também iniciei Psicologia. Acho fascinante o que uma pessoa pode fazer por outra que está morrendo; sendo ainda por uma doença tão filha da puta. Ela simplesmente muda o fim de uma vida - e isso, se não é honroso, é minimamente gratificante. Essa eu ainda posso concluir, trabalho voluntário não faz mal a ninguém. Ficarei no meu cantinho então, esperando pelo momento certo.

Aí me apaixonei pelo marketing. Na verdade, me apaixonei pelo modo como podemos nos apaixonar por uma marca e fazer de tudo por ela. Acho que isso entra no relacionamento com o consumidor - mais uma vez, o ser humano no meio da história. Adoro criar, inovar, desenvolver peças e principalmente valores. Ainda quem sabe eu volto...

Mas bicho, cês nem sabem que eu também sou louca pra fazer medicina. Queria ter umas três vidas - uma só para estudar o corpo humano e poder salvar e gerar vidas. Me enfiar no meio dos livros e não sair mais. "volta pro seu cantinho, volta."

E dançar?! Ai como queria tempo para treinar como treinava antigamente! Lava a alma, santifica o corpo, alegra. Queria aprender a tocar piano, flauta, violino e violão. E pandeiro! A cuíca eu já sei a manjada, só falta ter uma de verdade. "volta pro seu cantinho, volta".

Gostaria também de alguns anos para viajar pelo mundo. Irlanda, Escócia, Inglaterra, Polônia, Israel, França, Itália, Alemanha, California/Chicago/NY mais a fundo - BROADWAY!, Suíca... o mundo! Mas não como férias, turismo. Gostaria de morar um pouco em cada cidade. Ver cada modo de vida, cada trejeito e manias. Trabalhar, viver, me apaixonar, me decepcionar. Tudo em cada um desses lugares. "aham, volta pro seu cantinho, volta."

E sabe o que mais?! Queria casar, ter minha filha, uma família, ser feliz numa vida simples. Essas que a maioria almeja, essas que tantas tem.

Quero tantas coisas que mal cabem num texto, quem dirá numa vida. Tão curta como a de um ser humano. Escolhas são terríveis, pois pedem renúncias. Não dá para abraçar o mundo, infelizmente. Já não sei por onde começar a escolher, pois o meu coração está em todas essas opções acima. Enquanto isso o tempo vai passando e eu mal percebendo que já estou com quase 26 anos na cara sem rumo algum.

Enquanto isso dou aulas de inglês, tomo minha cervejinha com os amigos no fim de semana... e sonho. E leio Rilke, tentando fazer do meu dia a dia um pouco melhor diante de tantas dificuldades e obstáculos.

E assim... espero o vento dizer.

"As coisas em geral não são tão fáceis de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa."
Rainer Maria Rilke