sábado, 8 de janeiro de 2011

Olívia e sua estrada

Olívia gosta das noites de sábado em casa. Nelas, ela não está cansada. Nelas, seus olhos não insistem em fechar a cada página virada de um livro. Nelas, seu corpo não suplica por descanso. Nelas, as madrugadas são longas e silenciosas.

O barulho da chuva lá fora é poético e acolhedor. Acolhe Olívia como uma nuvem protege seu anjo. Acolhe com a inspiração de textos absorvidos; de palavras engolidas com gosto; de vocábulos soltos em uma mente perturbada em tantas teorias utópicas e ao mesmo tempo tão reais e plausíveis.

Sozinha. Hoje, sozinha, Olívia está tagarelando. Está poetizando. Analisando. Está ando tudo... andando... andando... e está sóbria, o que é pior! Ela precisa perder um pouco da lucidez, que a tem acompanhado todos os dias de sua vida nos últimos meses. Sair um pouco de si, embora ela realmente não goste de perder o controle de suas ações – e principalmente – de suas palavras! Mas hoje, excepcionalmente, está sentindo essa vontade.

Enquanto as horas passam, Olívia espera por algum tipo de inspiração que arranque de sua alma toda essa junção de sentimentos e vontades. É um misto de paradoxos e redundâncias e mais uma caralhada de coisa. Coisas definidas e não definidas. A imaginação luta contra a realidade. Ou a realidade luta contra a imaginação? É um bocado de plano e força pra sonhar, e falta de força pra chegar ao fim do arco-íris. Falta força e coragem pra lutar com garra e alcançar o que no momento é inatingível, mas no fundo nós sabemos que se fizermos o mínimo de esforço, conseguimos atingir.

Sobra medo da falha. Ou medo do tempo de espera. Sobra – e como sobra! – ansiedade e expectativa. Ansiedade é o fraco de Olívia. Até quem a vê de longe na rua percebe essa falha. Ela não tem paciência, ela tem pressa. Muita pressa. Imediatismo a trava, é o que a impede, é o que tira sua força de tentar o sonho.

Sobre desejo e falta permissão. Permissão de voar por entre os picos de atrações. Desejo de concretizar o imaginado.

Sobra tempo e falta paciência.

Olívia parou de fumar, mas acenderia um cigarro neste exato momento. E abriria uma garrafa de vinho para saborear cada gole da perda da sobriedade. Para talvez, no auge de sua embriaguez, ela – parafraseando Camelo – possa ter força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.

24 de janeiro de 2010